2018/08/04

A Arte do Amor entre Mulheres


"A arte do amor entre mulheres é uma celebração do amor e paixão lésbicos tal como são descritos na literatura e na arte desde as civilizações da antiguidade até aos tempos modernos, do oriente ao ocidente. Os excertos de poesia e prosa são complementados por deliciosas ilustrações a cores que incluem pintura, escultura e frescos."



Conheciam este livro? Eu não conhecia, quando me deparei com ele pela internet. Parecia tratar-se de uma relíquia de representação de "amor entre mulheres", como o título indica, e "tive" de o comprar. 🤷‍♀️

É mais pequenino do que esperava, mas ainda assim fiquei a conhecer vários poemas e pinturas que nunca tinha visto e adorei descobrir!

A edição portuguesa é de 1997, mas foi originalmente publicado em 1995, com o título "The Art of Lesbian Love". Não encontrei a autoria. Já agora, ficam a saber que 1995 é também o ano em que nasci.

Encomendei este livro juntamente com o "Mulheres Portuguesas" no dia 10 de junho de 2018 (abençoado histórico de encomendas, porque eu lembrar-me de datas...), em pleno mês de junho, no dia seguinte ao meu aniversário (prenda de mim para mim). 

Não queria que ninguém visse o que andei a comprar, para não me chatearem a cabeça, mas claro que a senhora minha mãe, que é uma mulher curiosa, assim que viu a caixa da livraria a chegar, quis logo saber de que livros se tratavam. Eu não estava em casa, mas a minha mãe fez o favor de me ligar a informar de que a encomenda tinha sido recebida e perguntou se podia abrir. Como eu, às vezes, também sou uma mulher curiosa (quem sai às suas...), e estava mortinha para saber a reação, disse-lhe que sim. A partir daqui foi ouvir a senhora minha mãe (que na verdade é bastante jovem, não liguem ao senhora) a dizer "Então, chegou o "Mulheres portuguesas" e... e... e... e o outro. 😅🤡

Despois desta, não voltou a perguntar se podia abrir as minhas caixas de livros... 🤔🤷‍♀️

Se quiserem, podem comprar este livro aqui.




Raparigas de Uniforme

Raparigas de Uniforme | Mädchen in Uniform | Leontine Sagan, Carl Froelich | Drama, Romance | Alemanha | IMDB



"Um dos mais famosos filmes do começo do cinema sonoro alemão, sobre o despertar dos sentimentos de uma jovem num pensionato feminino e os laços fortes de intimidade que começam a ligá-la a uma professora. À época, o filme foi proibido nos Estados Unidos e um jornalista português escreveu que a protagonista "deveria ser internada numa casa de correcção". (Texto: Cinemateca Portuguesa)




Fui pesquisar qual seria o primeiro filme a mostrar um beijo lésbico/sáfico e o ano da resposta surpreendeu-me.

Se vos perguntassem "em que ano foi lançado o primeiro filme a mostrar um beijo entre duas mulheres, que responderiam?

Se responderam 1931, acertaram! Se não sabiam, ficaram a saber. 

"Mädchen in Uniform"/"Raparigas de Uniforme" foi lançado, em 1931 , na Alemanha. Curiosamente, o primeiro filme a mostrar uma relação entre dois homens também é Alemão, o "Anders als die Andern"/"Diferente Dos Outros, de 1919.

Na verdade, houve alguns outros beijos entre personagens femininas, mas não num contexto romântico, daí se considerar este como o primeiro.

Primeiro Beijo Sáfico do Cinema




Christa Winsloe escreveu a peça de teatro que deu origem a este filme, tendo sido o roteiro para o mesmo escrito em conjunto por Christa Winsloe e Friedrich Dammann.

A peça de teatro teve vários títulos, podendo aparecer creditada de várias maneiras, tais como: "Gestern und heute" (Ontem e Hoje), "Ritter Nérestan" (Cavaleiro Nérestan) e "Krankheit der Liebe" (Doença do Amor).

Existem dois remakes deste filme: a versão mexicana de 1951 "Muchachas de Uniforme" e uma nova versão alemã de 1958.

O filme "Raparigas de Uniforme" também serviu de inspiração ao filme "Loving Annabelle", de 2006.

Daqui, o único que vi foi o "Loving Annabelle" e não gostei, nem nunca vou gostar, de nenhum filme que retrate um romance entre alguém adulto e alguém menor.

Como ainda não vi o "Raparigas de Uniforme", não sei se se trata de um caso de uma paixoneta unilateral da aluna perante a professora ou se há de facto uma relação entre as duas. Quero ver, pelo interesse histórico de ser considerado o primeiro filme lésbico, mas não me parece que vá gostar dele (futuramente poderei deixar por cá uma review).


Fucking Åmål

Fucking Åmål Lukas Moodysson | 1998 | Drama, Comédia, Romance | Suécia | IMDB | Minha nota: 8/10 👍

Filme também conhecido pelos nomes "Show me Love" e "Amigas de colégio".



Sinopse: Elin é a rapariga mais popular da escola. Ela está cansada da pacata rotina do lugar onde mora, a pequena cidade de Åmål, na Suécia. Agnes é uma nova aluna. Tímida, sem grandes amigos e com uma paixão platónica por Elin. Na festa de aniversário de 16 anos de Agnes,  Elin aparece e, inesperadamente, beija-a, por conta de uma aposta. 



Fucking Åmål foi o primeiro filme protagonizado por um casal de raparigas que vi, por mero acaso. Na altura procurava ver filmes em outras línguas que não português e inglês e escolhi ver este filme sueco (terá sido mesmo por mero acaso?). Devia ter uns 13 anos, altura em que estava longe de descobrir que me sentia atraída por mulheres, apesar de já fazerem comentários nesse sentido, por percecionarem a minha expressão de género como masculina e associarem a mesma a homossexualidade.

De tantas vezes ouvir, desde os 6 anos de idade, que ser "maria-rapaz" era mau e, posteriormente que uma rapariga gostar de outras raparigas era pior, tornei-me ligeiramente homofóbica na minha pré-adolescência (depois cresci e percebi que ser homofóbico é estúpido, mesmo antes de juntar 2 + 2 e perceber que gostava de mulheres), o que me levou a, numa primeira fase, achar isto da Agnes estar secretamente apaixonada pela Elin uma coisa muito estranha e ficar com cara de parva a ver o filme e a pensar "mas que vem a ser isto?!". É a tal chamada homo(bi)fobia internalizada.

No entanto, à medida que o filme vai decorrendo, começo a simpatizar com a Agnes e a ficar triste por ela não ter amigos e ninguém ter vindo à festa de aniversário e a achar isto muito injusto. (Ups, spoiler alert! Mais spoilers a caminho...) Acabam por aparecer na "festa" (por não terem mais nada que fazer) a Elin e outra rapariga. Numa aposta para gozar com a cara da Agnes, a Elin beija-a, para meu espanto. Apesar de ainda achar isto muito estranho, fico muito chateada com a Elin por ter gozado com a cara da Agnes, que gostava dela, ao mesmo tempo que começo a torcer, sem ainda me aperceber muito bem disso, que a Agnes encontre uma rapariga que também goste de raparigas e que gostem as duas uma da outra e que ninguém goze com elas. 

Último spoiler: no final do filme a Agnes e a Elin ficam juntas. E eu nesta altura já me esqueci que era tudo uma pouca vergonha aos olhos desta sociedade (que era ainda mais homofóbica que hoje em dia) e fiquei muito contente por a Elin afinal também gostar da Agnes. E de repente já não era uma coisa estranha, e de repente a história de amor deste filme passou a ser igualmente bonita e fofinha como as histórias dos outros filmes e de repente tornei-me menos homofóbica (apesar de continuar a não achar piada às insinuações e estar (erradamente) convicta de que não poderia ser o meu caso) e viva a representação!

Apesar de não estar na minha lista de melhores filmes de sempre, "Fucking Amal" é um bom filme e tem um lugar especial no meu coração e na minha vida e representa bem a importância de retratar relações LGBTI+ nos filmes (etc.). E espero que à medida que vai surgindo mais representação, as pessoas vão ganhando mais empatia e reconhecendo que somos todos pessoas merecedoras de respeito e iguais em direitos e que deixem de ser homofóbicas. Sonhar não custa... E ainda que seja passinho a passinho, uma pessoa de cada vez, é um grande avanço cada vez que um homofóbico deixa de existir. Eu comecei a deixar os pensamentos e ensinamentos homofóbicos de lado com este filme. E ainda bem. 

Mas foi o único do género que vi em muitos anos, pois na altura não havia "tanta" divulgação e representação como agora. E apesar dos sinais, ainda demorei até perceber a minha orientação sexual e ter resposta para todas as dúvidas e inseguranças que foram surgindo e sendo esquecidas e para aquele sentimento de falta de pertença e de incompletude.

O facto de ser bissexual também não ajudou nesta descoberta, pois na minha primeira paixoneta por um rapaz pus todas as dúvidas de lado e assumi que gostava de rapazes e ponto final, uma vez que a bissexualidade era ainda mais invisível e, infelizmente, continua a ser. Só mais tarde, por volta dos 17 (ou 16?), é que se fez luz.

Mas, ainda assim, aquele sentimento de pertença tardou a vir, que uma pessoa finalmente descobre que existe uma sigla LGBTI+ e finalmente acha que há pessoas que nos compreendem e aceitam, apenas para descobrir que para além da homofobia da sociedade em geral ainda se tem que levar com bifobia dentro da própria comunidade a que supostamente se pertence: lgBti. O B está lá... A sua compreensão e aceitação deixa a desejar...

Felizmente, mais tarde, finalmente acabei por ficar em paz com tudo isto e aceitar plenamente a minha orientação sexual. Possivelmente teria descoberto mais cedo e começado a sentir-me melhor mais cedo se houvesse mais representação na altura. De qualquer maneira, ainda bem que vi este filme. Ensinou-me muito. Ensinou-me a ver as pessoas como iguais, a deixar de ser preconceituosa e a aceitar-me mais. E aprendermos a respeitar as diferenças e a deixar preconceitos de lado é um dos maiores ensinamentos que devemos levar desta vida. 



P.S.: Obrigada a quem leu este testamento completo! 🙌



Apresentação

Comecemos pelo início...

Primeiro nasceu uma criança que viria a tornar-se numa mulher que não era heterossexual. Segundo, existiu a invisibilidade. Depois, veio o preconceito, seguido de comentários e insinuações. Tudo somado resultou em negação.

Um dia descobri que existiam as lésbicas. Começaram as dúvidas e as inseguranças, os "throwbacks". Isso explicava muita coisa... Mas eu até já tinha descartado essa hipótese, da primeira vez que gostei de um rapaz. E agora? Se gosto de homens é porque não gosto de mulheres. Ou afinal gosto de mulheres e então não gosto de homens? Mais dúvidas. E veio a procura por respostas e por mais informações.

Depois descobri que existiam as bissexuais. Eureka! E tudo fez sentido. E senti-me completa. Afinal era possível gostar dos dois. (Dois polos que, como vim a descobrir mais tarde, estão cheios de variações. Gosto de todas.)

E eis a questão: há mais como eu, mas onde estarão? E por que não aparecem na televisão? Então começou a procura por representatividade. Em filmes, séries, prosas, versos, quadros, músicas... Afinal até já existiam há muito tempo, desde que o mundo é mundo. E ainda há quem diga que são modernices...

E um dia, decidi criar este blogue onde posso partilhar os filmes, séries, livros, músicas (etc.) que continuam a divulgar a simples existência de mulheres que, como eu, amam outras mulheres.

E viva a representatividade! E viva o amor! É simples.