De tantas vezes ouvir, desde os 6 anos de idade, que ser "maria-rapaz" era mau e, posteriormente que uma rapariga gostar de outras raparigas era pior, tornei-me ligeiramente homofóbica na minha pré-adolescência (depois cresci e percebi que ser homofóbico é estúpido, mesmo antes de juntar 2 + 2 e perceber que gostava de mulheres), o que me levou a, numa primeira fase, achar isto da Agnes estar secretamente apaixonada pela Elin uma coisa muito estranha e ficar com cara de parva a ver o filme e a pensar "mas que vem a ser isto?!". É a tal chamada homo(bi)fobia internalizada.
No entanto, à medida que o filme vai decorrendo, começo a simpatizar com a Agnes e a ficar triste por ela não ter amigos e ninguém ter vindo à festa de aniversário e a achar isto muito injusto. (Ups, spoiler alert! Mais spoilers a caminho...) Acabam por aparecer na "festa" (por não terem mais nada que fazer) a Elin e outra rapariga. Numa aposta para gozar com a cara da Agnes, a Elin beija-a, para meu espanto. Apesar de ainda achar isto muito estranho, fico muito chateada com a Elin por ter gozado com a cara da Agnes, que gostava dela, ao mesmo tempo que começo a torcer, sem ainda me aperceber muito bem disso, que a Agnes encontre uma rapariga que também goste de raparigas e que gostem as duas uma da outra e que ninguém goze com elas.
Último spoiler: no final do filme a Agnes e a Elin ficam juntas. E eu nesta altura já me esqueci que era tudo uma pouca vergonha aos olhos desta sociedade (que era ainda mais homofóbica que hoje em dia) e fiquei muito contente por a Elin afinal também gostar da Agnes. E de repente já não era uma coisa estranha, e de repente a história de amor deste filme passou a ser igualmente bonita e fofinha como as histórias dos outros filmes e de repente tornei-me menos homofóbica (apesar de continuar a não achar piada às insinuações e estar (erradamente) convicta de que não poderia ser o meu caso) e viva a representação!
Apesar de não estar na minha lista de melhores filmes de sempre, "Fucking Amal" é um bom filme e tem um lugar especial no meu coração e na minha vida e representa bem a importância de retratar relações LGBTI+ nos filmes (etc.). E espero que à medida que vai surgindo mais representação, as pessoas vão ganhando mais empatia e reconhecendo que somos todos pessoas merecedoras de respeito e iguais em direitos e que deixem de ser homofóbicas. Sonhar não custa... E ainda que seja passinho a passinho, uma pessoa de cada vez, é um grande avanço cada vez que um homofóbico deixa de existir. Eu comecei a deixar os pensamentos e ensinamentos homofóbicos de lado com este filme. E ainda bem.
Mas foi o único do género que vi em muitos anos, pois na altura não havia "tanta" divulgação e representação como agora. E apesar dos sinais, ainda demorei até perceber a minha orientação sexual e ter resposta para todas as dúvidas e inseguranças que foram surgindo e sendo esquecidas e para aquele sentimento de falta de pertença e de incompletude.
O facto de ser bissexual também não ajudou nesta descoberta, pois na minha primeira paixoneta por um rapaz pus todas as dúvidas de lado e assumi que gostava de rapazes e ponto final, uma vez que a bissexualidade era ainda mais invisível e, infelizmente, continua a ser. Só mais tarde, por volta dos 17 (ou 16?), é que se fez luz.
Mas, ainda assim, aquele sentimento de pertença tardou a vir, que uma pessoa finalmente descobre que existe uma sigla LGBTI+ e finalmente acha que há pessoas que nos compreendem e aceitam, apenas para descobrir que para além da homofobia da sociedade em geral ainda se tem que levar com bifobia dentro da própria comunidade a que supostamente se pertence: lgBti. O B está lá... A sua compreensão e aceitação deixa a desejar...
Felizmente, mais tarde, finalmente acabei por ficar em paz com tudo isto e aceitar plenamente a minha orientação sexual. Possivelmente teria descoberto mais cedo e começado a sentir-me melhor mais cedo se houvesse mais representação na altura. De qualquer maneira, ainda bem que vi este filme. Ensinou-me muito. Ensinou-me a ver as pessoas como iguais, a deixar de ser preconceituosa e a aceitar-me mais. E aprendermos a respeitar as diferenças e a deixar preconceitos de lado é um dos maiores ensinamentos que devemos levar desta vida.
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