Sinopse: "Adèle tem 15 anos e, tal como todas as raparigas que conhece, namora com rapazes. Tudo aquilo em que acredita se altera quando o seu olhar se cruza com o de Emma, uma rapariga de cabelo azul, cuja visão da vida e do mundo é muito diferente da sua. Entre elas nasce um amor e desejo profundo que, apesar das dificuldades, as fará crescer e afirmar-se enquanto mulheres.
A vida de Adèle" é a adaptação cinematográfica do premiado Romance Gráfico "Le Bleu est une couleur chaude", de Julie Maroh (livremente feita, com muitas diferenças). O filme venceu a Palma de Ouro da 66.ª edição do Festival de Cannes, com a homenagem inédita, não apenas ao trabalho do realizador, mas também ao de Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos, as duas actrizes protagonistas.
Lembro-me da altura em que este filme foi anunciado. Não se falava de outra coisa, teve muito marketing à volta, proibições em alguns países e o alarido à volta da famosa cena sexual de 7 minutos. Lembro-me de ter elevadas expetativas para este filme.
Quando estreou, fui vê-lo ao cinema. Não valeu todo o alarido à volta do mesmo, mas gostei. Gostei muito. Mas gostei muito pela representação que faz de Adèle, muito poética e crua. O casal em si pareceu-me desapegado, a famosa cena demasiado mecânica e pouco realista. A relação delas era conturbada e nunca encaixaram bem na vida uma da outra. Mas, ainda assim, o filme é de uma beleza inegável. A simplicidade e crueza com que nos apresenta a protagonista (que transpira beleza até nas cenas de cabelo oleoso e em que está a chorar baba e ranho, ou simplesmente a comer), com que nos mostra a sua auto-descoberta à medida que vai passando da adolescência para a idade adulta, o realismo com que nos apresenta o seu quotidiano, tal como a grande química entre as duas atrizes, fazem deste um filme único. Ao longo do filme, nota-se bem o porquê de o realizador ter escolhido o nome de "La vie d'Adèle" para título do filme em vez do original "Le Bleu est une couleur chaude", dando o nome da atriz protagonista à personagem principal, assumindo estar perante uma verdadeira musa inspiradora.
Referi que o casal me parecia desapegado e depois disse que as atrizes tinham uma grande química... em que é que ficamos? 😅 Ora bem... química tinham, e muita, mas emocionalmente falando pareceu-me faltar qualquer coisa, e esse desapego, que me pareceu ter mais a ver com as muitas diferenças entre as duas e na forma como cada uma via e vivia a vida, vai-se revelando cada vez mais ao longo do filme.
Devo dizer, ainda, que, para além das cenas sexuais apelarem mais ao público masculino, o filme também cai no cliché da "lésbica que trai a namorada com um homem". No entanto, creio que neste caso, o sexo do "objeto" da traição seja irrelevante, uma vez que dá para perceber que se deveu à solidão e à falta de atenção sentida por Adèle, à distância entre as duas e às inseguranças de Adèle em relação a Emma e Lise.. Emma também aparentou ficar mais irritada pelo facto de se tratar de um homem do que pela a traição em si... Claro que isto não justifica uma traição (que deve ser vista em igual medida quer seja com um homem ou com uma mulher...), mas explica a atuação de Adèle e retira as suas atuações de um mero capricho, como muitos filmes retratam (vide "The kids are all right"). Para além disto, pareceu-me que o filme dá indícios de que Emma também andava a trair a Adèle com a Lise, o que seria, no mínimo, hipocrisia por parte de Emma, e transmite a ideia de que trair com um homem é mau, com uma mulher nem por isso, ou menos mal... (ideia incorreta, a meu ver).
Poderão surgir dúvidas, também, quanto à orientação sexual de Adèle, não que seja relevante, mas a título de mera curiosidade... a sua reação à sua relação com Thomas indicou que Adèle não se sentia atraída por homens, no entanto acaba a trair a namorada com um. Pareceu-me que foi por mera carência e entrega a alguém que mostrava gostar dela, já que não se sentia valorizada por Emma. Basicamente a "falta de carinho" e a solidão que sentia fez com que se deixasse levar pela primeira pessoa que lhe deu atenção. Diria, portanto, que Adèle é lésbica, mas que nunca se sentiu plenamente à vontade com a sua sexualidade, parecendo querer guardar a sua relação apenas para si, num mundo à parte. De notar a diferença do à vontade com que protestou por uma melhor educação e a reserva e desconforto com que se apresentou nos protestos pelos direitos LGBT.
Gostaria mais se tivesse seguido o enredo da banda desenhada. Se bem que teríamos uma história mais trágica do que a que nos foi apresentada, ainda que o final deste filme também não tenha sido propriamente feliz.
De referir, também, toda a polémica que houve em relação ao descontentamento das atrizes perante as exigências do realizador em relação à longa cena sexual e a cena da estalada que tiveram de ser "repetidas incessantemente", levando as atrizes à exaustão.
Qualquer coisa que não concordem, sintam-se à vontade para deixar a vossa opinião nos comentários. 😊
Referi que o casal me parecia desapegado e depois disse que as atrizes tinham uma grande química... em que é que ficamos? 😅 Ora bem... química tinham, e muita, mas emocionalmente falando pareceu-me faltar qualquer coisa, e esse desapego, que me pareceu ter mais a ver com as muitas diferenças entre as duas e na forma como cada uma via e vivia a vida, vai-se revelando cada vez mais ao longo do filme.
Devo dizer, ainda, que, para além das cenas sexuais apelarem mais ao público masculino, o filme também cai no cliché da "lésbica que trai a namorada com um homem". No entanto, creio que neste caso, o sexo do "objeto" da traição seja irrelevante, uma vez que dá para perceber que se deveu à solidão e à falta de atenção sentida por Adèle, à distância entre as duas e às inseguranças de Adèle em relação a Emma e Lise.. Emma também aparentou ficar mais irritada pelo facto de se tratar de um homem do que pela a traição em si... Claro que isto não justifica uma traição (que deve ser vista em igual medida quer seja com um homem ou com uma mulher...), mas explica a atuação de Adèle e retira as suas atuações de um mero capricho, como muitos filmes retratam (vide "The kids are all right"). Para além disto, pareceu-me que o filme dá indícios de que Emma também andava a trair a Adèle com a Lise, o que seria, no mínimo, hipocrisia por parte de Emma, e transmite a ideia de que trair com um homem é mau, com uma mulher nem por isso, ou menos mal... (ideia incorreta, a meu ver).
Poderão surgir dúvidas, também, quanto à orientação sexual de Adèle, não que seja relevante, mas a título de mera curiosidade... a sua reação à sua relação com Thomas indicou que Adèle não se sentia atraída por homens, no entanto acaba a trair a namorada com um. Pareceu-me que foi por mera carência e entrega a alguém que mostrava gostar dela, já que não se sentia valorizada por Emma. Basicamente a "falta de carinho" e a solidão que sentia fez com que se deixasse levar pela primeira pessoa que lhe deu atenção. Diria, portanto, que Adèle é lésbica, mas que nunca se sentiu plenamente à vontade com a sua sexualidade, parecendo querer guardar a sua relação apenas para si, num mundo à parte. De notar a diferença do à vontade com que protestou por uma melhor educação e a reserva e desconforto com que se apresentou nos protestos pelos direitos LGBT.
Gostaria mais se tivesse seguido o enredo da banda desenhada. Se bem que teríamos uma história mais trágica do que a que nos foi apresentada, ainda que o final deste filme também não tenha sido propriamente feliz.
De referir, também, toda a polémica que houve em relação ao descontentamento das atrizes perante as exigências do realizador em relação à longa cena sexual e a cena da estalada que tiveram de ser "repetidas incessantemente", levando as atrizes à exaustão.
Qualquer coisa que não concordem, sintam-se à vontade para deixar a vossa opinião nos comentários. 😊